Os recentes avanços na tecnologia não apenas permitem que as empresas digitalizem seus processos a base de papel, mas também tomem melhores decisões de negócio.
Embora existam muitas opções hoje em dia para organizações que desejam atualizar suas operações, nem todas as empresas estão ansiosas para adotar tecnologias inovadoras, apesar de seus benefícios. Por medo de rupturas ou custos adicionais, algumas empresas ainda se recusam a abandonar suas antigas formas de fazer negócios.
Para discutir como a inovação pode reduzir custos e aprimorar as operações no setor de varejo, convidamos Paulo Fernandes Garcia Neto, fundador e CEO da InfoPrice – uma plataforma que oferece aos varejistas os insights mais recentes do mercado.
Conte-nos sobre sua jornada ao longo dos anos. Como surgiu a ideia da InfoPrice?
Estudamos engenharia na USP (Universidade de São Paulo), uma das melhores do Brasil. Um dia, eu estava conversando com um amigo que tinha acabado de começar a trabalhar em uma grande empresa, estávamos almoçando e ele começou a reclamar do emprego. Ele disse que tinha que “mentir” muito. Fiquei meio chocado com a declaração, mas ele explicou em sequência. O ponto era que eles estavam criando modelos para um projeto específico e não havia dados do mundo físico para testá-lo, então ele se sentiu um mentiroso. Lá em 2013, quando tivemos essa conversa, o Brasil estava com um problema inflacionário, com destaques específicos para um produto em particular, o tomate. Isso virou piada na internet na época, as pessoas falavam em comprar casas em troca de tomates. Bem, acredito que as duas coisas passaram pela minha cabeça ao mesmo tempo e do nada fiz uma pergunta ao dono do restaurante: “Você compraria informações sobre onde comprar ingredientes mais baratos?” Ele respondeu prontamente: “Claro!”.
Essa conversa me fez pensar por dias sobre a criação de um mecanismo de busca de preços em lojas físicas para os consumidores, e isso nos fez iniciar o que mais tarde se tornou a InfoPrice. Mudamos rapidamente de b2c para b2b quando entendemos que, se conseguíssemos desenvolver uma tecnologia para coletar essas informações, teríamos um começo melhor como uma empresa abordando questões b2b já existentes.
Você pode nos apresentar o que vocês fazem? Quais são os principais problemas que vocês ajudam a resolver?
Somos o maior hub de dados de preços para o varejo físico na América Latina. Democratizamos tecnologias, antes exclusivas de grandes corporações, para um grande mercado intermediário. Nossa plataforma SaaS ajuda os varejistas a atingir todo o seu potencial de receita monitorando os concorrentes e otimizando os preços.
No geral, temos duas linhas de soluções. O ISA (InfoPrice Survey Analytics) – InfoPanel e Monitoramento PDV, que cobrem a falta de dados sobre o cenário competitivo e os preços praticados por indústrias, atacadistas e varejistas. Cobre também a falta de dados granulares e confiáveis para atuar rapidamente em movimentos competitivos (mercado dinâmico com uso intensivo de preços promocionais). O monitoramento de preços de concorrentes pode ser feito por meio de um painel geral de preços simples e intuitivo, com possibilidade de contratação do Monitoramento de PDV que fornece informações sobre preços e sortimento de forma ágil, precisa e personalizada para suas necessidades.
E IPA (Intelligent Price Action) – Software de precificação, que soluciona as dificuldades de gestão, controle e manutenção da estratégia de precificação, respeitando as particularidades de cada loja/região, arquitetura de produto, sensibilidade ao preço e margens de lucro, além de identificar os melhores preços para cada produto através de diversas análises. O IPA é uma plataforma que garante eficiência e governança à estratégia de precificação por meio do uso de regras automáticas, limites de segurança, arredondamento de preços (preço psicológico), arquitetura de produtos e ferramentas de BI (Business intelligence – Inteligência de negócios) & IA (Inteligência Artificial).
Na sua opinião, quais são alguns dos desafios mais difíceis que os novos empresários enfrentam hoje em dia?
Como diz o ditado, “o Brasil não é para amadores”. Temos um ambiente bastante hostil para empreendedores, e as coisas parecem não mudar. Temos burocracia governamental, muitos impostos e um ecossistema de capital de risco em desenvolvimento. Além disso, você pode adicionar a dificuldade de contratação de pessoal de tecnologia, intensificada pela pandemia e estilo de vida de home office, que permitiu que empresas estrangeiras contratassem brasileiros com uma tremenda vantagem financeira devido à nossa disparidade cambial em relação ao dólar americano.
Como os recentes eventos globais afetaram seu campo de trabalho? Houve algum novo desafio ao qual você teve que se adaptar?
A pandemia impactou muito nossa empresa porque, na época em que começou, nosso principal produto era o ISA – Monitoramento PDV, que exige que um pesquisador de campo vá aos supermercados para coletar os dados de preços, e os protocolos de distanciamento social nos proibiam de fazer essa pesquisa para nossos clientes.
Para superar isso, criamos um dashboard de preços dos principais produtos dos supermercados, preenchido com todos os dados coletados que temos de nossos parceiros digitais. Nossos clientes gostaram tanto que o transformamos em um produto real, o ISA – InfoPanel, que se tornou nosso principal produto hoje, com mais de 500 milhões de pontos de dados de preços de todo o país.
Então, o que começou como uma grande crise, acabou muito bem para nós.
Quais são as melhores práticas de segurança que você acha que empresas de todos os tamanhos deveriam adotar hoje em dia para manter operações remotas tranquilas e seguras?
Em termos de aplicativos e tecnologias, é certo que quem não hospeda seus serviços em uma nuvem altamente robusta e escalável está com os dias contados. Alinhada a uma boa arquitetura de infraestrutura, é necessário realizar a gestão de risco de todos os seus serviços, implementando estratégias mais rígidas nos serviços de extrema importância.
Algumas das ações mais importantes são o monitoramento em tempo real de atividades suspeitas, a verificação das melhores práticas no uso de ferramentas em nuvem e, por fim, a garantia de backups.
Ao nível interno dos colaboradores, é necessário ter um bom conhecimento do software utilizado, garantindo que são dados níveis de acesso específicos aos seus respectivos grupos de utilizadores, especialmente quando se trata de dados sensíveis. Aplicação de políticas de segurança, acesso VPN e 2FA são alguns exemplos das melhores práticas de segurança.
Apesar de todas as soluções disponíveis hoje, algumas empresas ainda se recusam a atualizar suas operações com medidas novas e inovadoras. Por que você acha que é assim?
Aqui no Brasil, sempre leva algum tempo para que as novas tecnologias se tornem acessíveis para todos, seja pelos altos preços quando chegam aqui ou pela falta de profissionais qualificados que possam implementar essas medidas inovadoras.
Este problema é um grande desafio para nós. O mercado de varejo ainda está aprendendo sobre novas formas de melhorar os negócios com tecnologia, especialmente porque a maioria das pessoas desse mercado não entende por que mudar a forma como administram seus negócios pode melhorar seu lucro e operação. Por isso, precisamos educá-los, para mostrar como a inovação e os dados podem torná-los mais competitivos e, consequentemente, aumentar sua participação de mercado e seus lucros.
Que outros processos da empresa você espera ver aprimorados ou automatizados pela tecnologia nos próximos anos?
Falando sobre o mercado de varejo, a jornada de precificação começa pelas estratégias, seguida pelo monitoramento de PDV e automação de precificação. Mas há partes da operação que ainda precisam atualizar sua tecnologia, um dos casos é a alteração de preços.
A alteração de preços é atualmente muito manual. Após definir as regras de precificação, o trabalhador precisa colocar etiquetas de preço na prateleira do produto e expô-las aos clientes.
Tenho certeza de que muitos erros humanos são cometidos ao longo do caminho, por isso ter alguma tecnologia para tornar esse processo mais automatizado certamente aumentaria os lucros e reduziria o trabalho operacional, o que daria mais tempo para os varejistas focarem nas estratégias.
Então, e-tags! Você pode dizer, tudo bem, não há nada de novo aqui. E sim, na verdade, as e-tags estão disponíveis há décadas. Mas qual é o nosso ponto aqui, você já se perguntou por que eles não se espalharam? Resposta simples, grande investimento, pouco retorno. E-tags são o fim de um círculo de preços, não é uma solução autônoma lucrativa. Portanto, a chave aqui, o principal desafio é conectar os pontos.
Como você acha que o setor de varejo vai evoluir no futuro próximo?
Em nossa área de atuação, vemos um movimento em direção à Inteligência Artificial e preços dinâmicos. Basicamente, é capaz de prever o preço certo para os clientes daquela loja. Um exemplo disso é o varejo do Alibaba, Fresh Hippo. Eles mudam os preços cerca de 3 vezes por dia.
Outra coisa que está ganhando força no setor de varejo são os supermercados sem caixas. A Amazon acaba de abrir algumas lojas nos EUA com carrinhos de compras inteligentes que registram automaticamente os produtos colocados no carrinho.
Diga-nos, o que vem a seguir para InfoPrice?
O próximo passo é continuar crescendo a empresa junto com nossos clientes. Este ano estamos investindo no aprimoramento de nossas soluções SaaS ISA – InfoPanel e IPA – Software de Precificação, para democratizar ainda mais o acesso a dados no Brasil, o que nos dá grandes possibilidades. O futuro da IPA está lado a lado com a Inteligência Artificial. Estamos trabalhando e criando algoritmos para fornecer sugestões de preço. Em seguida, focaremos em agregar dados de varejo online ao nosso ISA – InfoPanel, criando uma omni-plataforma, a fim de alcançar mais clientes e trazer mais informações para o mercado de varejo.
O conteúdo acima é a tradução da entrevista realizada pela Cybernews com o CEO da InfoPrice, Paulo Fernandes Garcia Neto. Clique aqui para ver o conteúdo original em inglês.